20 março 2011

O segredo do xixi feminino (Caroline Costa Bernardo)

O grande segredo de todas as mulheres com relação aos banheiros é que,  quando pequenas, quem as levava ao banheiro era sua mãe.

Ela ensinava a limpar o assento com papel higiênico e, cuidadosamente, colocava tiras de papel no perímetro do vaso e instruía:

"Nunca, nunca, se sente em um banheiro público!"...

E, em seguida, mostrava "a posição", que consiste em se equilibrar sobre o vaso numa posição de sentar, sem que, no entanto, o corpo entre em contato com o vaso.

"A posição" é uma das primeiras lições de vida de uma menina, super importante e necessária e irá nos acompanhar por toda a vida.
Quando você TEM que ir ao banheiro público, encontra uma fila de mulheres, que faz você pensar que o Brad Pitt deve estar lá dentro.
Você se resigna e espera, sorrindo para as outras mulheres que também estão com braços e pernas cruzados na posição oficial de "estou me mijando".
Finalmente, chega a sua vez!!!
Você, então, verifica cada cubículo por baixo da porta para ver se há pernas. Todos estão ocupados.
Finalmente um se abre e você se lança em sua direção quase puxando a pessoa que está saindo.
Você entra e percebe que o trinco não funciona (nunca funciona)... não importa... você pendura a bolsa no gancho que há na porta e, se não há gancho (quase nunca há gancho), você inspeciona a área... o chão está cheio de líquidos não identificados e você não se atreve a deixar a bolsa ali... então você a pendura no pescoço enquanto observa como ela balança sob o teu corpo, sem contar que você é quase decapitada pela alça porque a bolsa está cheia de bugigangas.
Mas, voltando à porta...
Como não tinha trinco, a única opção é segurá-la com uma mão enquanto, com a outra, abaixa a calcinha com um puxão e se coloca "na posição".
Alívio... AAhhhhhh... finalmente...
Aí é quando os músculos começam a tremer...
Porque você está suspensa no ar, com as pernas flexionadas e a calcinha cortando a circulação das pernas, o braço fazendo força contra a porta e uma bolsa de 5 quilos pendurada no pescoço.
Você adoraria sentar, mas não teve tempo de limpar o assento, nem de cobrir o vaso com papel higiênico.
No fundo, você acredita que nada vai acontecer, mas a voz da sua mãe ecoa na sua cabeça "jamais se sente em um banheiro público!" e, assim, você mantém "a posição" com o tremor nas pernas...
Você procura o rolo de papel higiênico, maaassss, $#!&*$%##$&...!... o rolo está vazio... sempre...
Então, você pede aos céus para que, nos 5 quilos de bugigangas que carrega na bolsa, haja pelo menos um miserável lenço de papel.
Mas, para procurar na bolsa, é preciso soltar a porta.
Você pensa por um momento, mas não há opção...
E, assim que solta a porta, alguém a empurra e você tem que freiá-la com um movimento rápido e brusco, enquanto grita: "TEM GENTE!!!"...

Aí, você considera que todas as mulheres esperando lá fora ouviram o recado e você pode soltar a porta sem medo pois ninguém tentará abrí-la novamente (nisso, nos respeitamos muito) e você pode procurar seu lenço sem angústia.
Você gostaria de usar todos, mas lembra quão valiosos são em casos similares e guarda um, por via das dúvidas.
Você, então, começa a contar os segundos que faltam para sair dali, suando porque está vestindo o casaco, já que não há gancho na porta - ou cabide - para pendurá-lo.
É incrível o calor que faz nestes lugares tão pequenos, ainda mais nessa posição de força, que parece que as coxas e panturrilhas vão explodir.

Sem falar da porrada que você levou da porta, a dor na nuca pela alça da bolsa, o suor que corre da testa, as pernas salpicadas de xixi.
Vem a lembrança de sua mãe, que estaria morrendo de vergonha se a visse assim, porque sua bunda nunca tocou o vaso de um banheiro público e porque, francamente, "nunca se sabe que doenças você pode pegar ali"... você está exausta.
Ao ficar de pé, você não sente mais as pernas.
Você acomoda a roupa rapidíssimo e tira a alça da bolsa por cima da cabeça...
Você, então, vai à pia lavar as mãos...
Está tudo cheio de água e você não pode soltar a bolsa nem por um segundo.
Você a pendura num ombro e, não sabendo como funciona a torneira automática, você a toca, até que consegue fazer sair um filete de água fresca e estende a mão em busca de sabão.
Você se lava na posição do corcunda de Notre Dame, para não deixar a bolsa escorregar para baixo do filete de água...
O secador, você nem usa. É um traste inútil e você seca as mãos na roupa, porque nem pensar usar para isso o último lenço de papel que sobrou na bolsa.
Você, então, sai.
Sorte se um pedaço de papel higiênico não tiver grudado no sapato e você o sair arrastando ou, pior, a saia levantada, presa na meia-calça que você teve que levantar à velocidade da luz e te deixou com a bunda à mostra!
Nesse momento, você vê o carinha que entrou e saiu do banheiro masculino e ainda teve tempo de sobra para ler um livro enquanto esperava por você.
"Por que demorou tanto?" - pergunta o idiota.
Você se limita a responder:
"A fila estava enorme."
E esta é a razão por que nós, as mulheres, vamos ao banheiro em grupo: por SOLIDARIEDADE, já que uma segura a sua bolsa e o casaco, a outra segura a porta e, assim, fica muito mais simples e rápido, já que você só tem que se concentrar em manter "a posição" e a dignidade.
Obrigada a todas as amigas que já me acompanharam ao banheiro...

1 comentários:

leila disse...

Adorei Raquelzinha...muito mesmo.

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